
CASO CLÍNICO
Incapacidade de administrar a própria vida
Mulher de 32 anos, solteira.
Veio ao meu consultório por se sentir truncada, travada, por conta de seu medo de tomar uma atitude e de dar um novo rumo à sua vida. Estava muito insatisfeita profissional, amorosa e financeiramente. Tinha também muito medo de errar e vir a se arrepender diante de qualquer decisão que viesse a tomar.Ela me disse: “Eu me sinto impotente porque não consigo administrar a minha vida. É sempre alguém que toma uma decisão por mim. Estou cansada, eu quero assumir a minha própria vida”.
Ao regredir me relatou: ”Vejo uma onda muito grande. Estou me debatendo dentro do mar. Não tenho força. A onda gigantesca me leva. Eu me sinto muito impotente diante de tanta água... Agora não vejo nada, está tudo escuro... Estou sozinha, parece que é noite. Vejo-me no meio das árvores”.Estou procurando plantas medicinais no meio da floresta. Estou procurando plantas e cogumelos para fazer algum remédio. Eu vou entrando na floresta que acaba no mar.
Vejo-me em cima de um morro e embaixo está o mar... Ai meu Deus!!! (começa a gritar). Vem uma enorme onda, cobre toda a floresta e leva tudo embora. Eu não sei nadar (chora copiosamente). Vou morrer!... O mar está muito violento, a água me carrega como se estivesse lavando, varrendo alguma coisa” (A paciente começa a tossir e a se debater no divã). Peço para ela se acalmar e não vivenciar a cena, mas vê-la de fora, sem se envolver emocionalmente.
Mais calma agora, ela me diz: “A sensação que vem é que morri afogada... É a época da civilização Atlântida. Eu usei muito mal o conhecimento que tinha. Fiz muita coisa errada. Eu envenenei as pessoas com as plantas medicinais extraídas dessa floresta. Eu moro em uma casa de pedra. Era feliz, cultivava flores. Sou uma moça bonita, devo ter uns 20 anos. Uso uma saia cumprida, clara, de florzinha. Eu me vejo sozinha, moro sozinha. Até que apareceu um homem, um bruxo que mudou toda a minha vida. Ele gostou das minhas flores e me ensinou a fazer os remédios medicinais. Eu não sabia que podia extrair remédios das plantas. Só que esse “remédio” envenenou muita gente. Ele falava que eu iria curar muita gente, o que não era verdade. O bruxo dizia que eu tinha talento para fazer remédio, mas que precisava aprender com ele. Em verdade, eu me deixei ser levada por ele. Eu me deixei levar pela sedução dele e fui apanhar as plantas que não eram boas e acabei matando muita gente”. Eu achava que ele era poderoso e o obedecia cegamente, para que ele gostasse de mim, me aceitasse. Era muito ingênua e carente.Agora percebo que nunca tomei as rédeas de minha vida. Sinto que poderia ser mais atuante. Eu me sentia inferiorizada por ser mulher, não me sentia suficientemente capaz. Na verdade, eu queria ser reconhecida por ele, achava que os homens sabiam mais do que as mulheres. Eu o admirava”.
Peço em seguida para que ela vá para o momento de sua morte nessa vida:“Diante da fúria daquela onda gigante, simplesmente desapareci no meio d’água. Senti muito medo e impotência”.Quais foram seus últimos pensamentos e sentimentos no momento de sua morte? perguntei-lhe: “Eu me senti culpada e veio a idéia de castigo por fazer mau uso do conhecimento. Veio também arrependimento por ter prejudicado muita gente.O ruído do mar era assustador. É muita fúria! É horrível!Fica claro agora o porquê desse medo de decidir na vida presente. Sinto medo de errar novamente. Eu trago para a vida atual essa culpa e arrependimento por ter prejudicado muita gente”.
Antes de encerrarmos a regressão, peço para que ela se liberte de seu passado, se livre dessa culpa. Enfatizo que na verdade ela agiu na melhor das intenções. Por conta de sua ingenuidade e carência, acabou deixando-se influenciar por aquele homem. Peço, portanto, para que ela se liberte definitivamente dessa culpa, se perdoando, não deixando que essas sensações e sentimentos negativos de seu passado permaneçam dentro dela.
Disse-lhe que ela precisava fazer um trabalho de auto-perdão para que pudesse fluir de forma mais livre na vida presente. Posteriormente, ela passou por mais 6 sessões de regressão e, no final de cada uma delas, fizemos um trabalho de desprogramação e programação mental positiva para que ela se libertasse desta culpa. A paciente me disse que estava mais autoconfiante, se sentindo capaz de tomar suas próprias decisões, sem deixar, desta vez, que as pessoas tomassem as rédeas de sua vida.